Eu sei que a gente se acostuma.
Mas não devia.
A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor.
E porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora.
E porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas.
E porque não abre as cortinas logo se acostuma a acender cedo a luz.
E a medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.
A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora.
A tomar o café correndo porque está atrasado.
A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem.
A comer sanduíche porque não dá para almoçar.
A sair do trabalho porque já é noite.
A cochilar no ônibus porque está cansado.
A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.
A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita.
E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar.
E a pagar mais do que as coisas valem.
E a saber que cada vez pagará mais.
E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.
A gente se acostuma à poluição.
Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro.
À luz artificial de ligeiro tremor.
Ao choque que os olhos levam na luz natural.
Às bactérias de água potável.
A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer.
Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá.
Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo.
Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço.
Se o trabalho está duro a gente se consola pensando no fim de semana.
E se no fim de semana não há muito o que fazer, a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.
A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele.
Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para poupar o peito.
A gente se acostuma para poupar a vida.
Que aos poucos se gasta, e que gasta de tanto se acostumar, e se perde de si mesma.
[ Marina Colassanti ]
terça-feira, 20 de outubro de 2009
segunda-feira, 12 de outubro de 2009
O amor poderia estar mais perto do que se imagina...
Maria Flor e Gabriel eram amigos de muitos anos, um sabia tudo sobre a vida do outro como se fosse a sua própria vida. Flor, sempre com um sorriso simpático e um olhar meigo, era delicada e pálida como o luar. Gabriel era tímido, tinha os cabelos escuros como a noite e os olhos verdes como as águas do mar e era capaz de ficar horas, apenas olhando para Flor. Tinham sem duvida alguma, para aqueles que os conheciam, a amizade mais calorosa, e mais bela que já se tinha visto. Gabriel nunca teve ninguém, nenhum romance, nenhuma namorada. Flor já havia se apaixonado inúmeras vezes, porém, nunca ninguém a fez feliz, como ela sonhara um dia ser. Estava namorando, seu namorado se chamava Claudio. Era um rapaz elegante, muito bonito, porem lhe faltava algo, era extremamente sério, faltava-lhe a alegria e a simplicidade.
Gabriel um dia, enquanto andava pela praça, sentindo a brisa do outono, avistou Flor entra as roseiras, em lagrimas, e dor. Correu até ela, e perguntou-lhe o que havia acontecido, porque chorava com tanta dor. E ela, olhou no fundo daqueles olhos verdes e respondeu-lhe:
- Sempre sonhei com uma história singela de amor, mais nunca tive um final feliz com alguém. Procurei-me nos olhos de Claudio e não me encontrei, descobri então que não o amava e nem ele à mim. Eu só queria ser especial para alguém e ter alguém para poder dizer à ele, o quanto é especial para mim.
Gabriel olhou em seus olhos, segurou em suas mãos e disse-lhe:
-Não chores e não tema, não desista de encontrar o amor verdadeiro, ele pode estar mais perto do que se imagina, e ele nunca a abandonara. Sempre estarei com você !
Gabriel abriu seus braços e aconchegou Flor em seu peito, nesse momento caiu uma lágrima de seus olhos, molhando os cabelos de Flor. Flor se sentiu completamente em paz, se despediu de seu amigo e foi para casa.
No dia seguinte, foi até a casa de Gabriel para agradecer-lhe mais uma vez, mais não encontrou ninguém. A casa estava silenciosa e vazia. Correu de volta até sua casa, foi até a cozinha e encontrou sua mãe sentada a mesa com um envelope nas mãos com seu nome. Sua mãe lhe entregou a carta, beijou sua testa e foi para o quarto. Flor sentou-se, abriu a carta e começou a ler. A carta dizia:
- Maria Flor, vivi com você as melhores coisas da minha vida. As melhores aventuras, e as melhores histórias. Todos os milésimos de segundos que passei ao seu lado estão guardados em meu coração. Precisava dizer uma coisa muito importante à você ontem, mais não consegui, faltou-me coragem. Lembra quando te disse naquela praça, que o amor poderia estar mais perto do que se imagina? Então... ele estava segurando em tuas mão naquele momento. E como eu disse, ele nunca te abandonara. Te amei em todas as coisas, em todos os momentos e em todas as brincadeiras. Tenho guardado em minha memória todos os perfumes que usou, o jeito que mexia no cabelo, as covinhas no teu rosto, e o jeito como seus olhos ficavam pequenos quando sorria. Estive ao teu lado em todos os momentos da sua vida, e sempre estarei. Eu te amo como nunca, te amo como ninguém, e sempre te amarei. Mais sinto em dizer-te que tive que partir com minha família pela manha, e que ficarei longe por algum tempo. Mais não deixe de acreditar no amor, não deixe de acreditar no meu amor por você. Espera-me, e eu voltarei. Trarei comigo o amor que tanto esperou. Mandarei mais noticias em breve...Com todo o amor que um homem pode ter por uma mulher...
Gabriel ♥
Flor ficou mais pálida do que de costume, estremeceu. Não pode conter as lágrimas ao perceber que nunca conseguiu ser feliz porque nunca havia enxergado o amor, nunca percebeu que quem ela mais amava, a pessoa mais importante da sua vida, estava sempre ao seu lado, nas horas tristes e nas horas alegres. Tomou a decisão mais importante de sua vida... Decidiu esperar...esperar o tempo que fosse...e realmente...ela esperou !
Nos enganamos muitas vezes à procura do amor, e as vezes até pensamos em desistir. E na maioria delas, olhamos além das montanhas, sem antes olhar ao nosso redor, e para dentro do nosso coração. Não importa o quanto tenha sofrido em busca do amor, nunca desista de encontrá-lo, pois se não fossem os enganos, como saberíamos quando realmente é de verdade?
P.S.: Amei esse texto que foi escrito pela minha prima querida Érica Moreira.
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